Um monstro chamado: depressão pós-parto


Bom, eu grávida sumi muito do blog por inúmeros motivos, mas após o nascimento do Gael eu comentei que tinha tido depressão pós-parto. Prometi me aprofundar no assunto depois, e agora é o que tô fazendo, principalmente porque é importante pra algumas mães, grávidas, pais, maridos, avós e amigos saberem o que é a depressão pós-parto, como isso é sério e como é importante ter ajuda. Quando eu fiquei grávida, com 19, eu tive muitas amigas íntimas que ficaram junto comigo. Isso foi ótimo, porque eu pude trocar experiências com elas. Inúmeras. Algumas boas, outras nem tanto, mas foi bom para eu não me sentir sozinha.

Mesmo assim, eu me sentia. A realidade das minhas amigas era muito diferente da minha. Eu tinha um relacionamento conturbado, nenhum preparo financeiro para a chegada do Gael e com certeza, a reação dos meus pais foi bem mais severa que a dos de minhas amigas. Incrivelmente, durante a gestação eu enfrentei com muita boa vontade o que a vida me oferecia. Adorei estar grávida.Tirei 300 fotos, registrei todos os momentos, curtia as mexidas, as ultras, tudo. Acho que curti tudo o que podia curtir da minha gravidez. E de repente, a surpresa: com apenas 33 semanas de gestação, a minha bolsa estourou. Contração? Zero. E foi aquela correria pra maternidade. Exame de toque, nada de dilatação. Entre internação, antibióticos, etc., nada de trabalho de parto. E a bolsa continuava rota. Aquela agonia de ficar no hospital começou a me consumir. Cada médico dizia uma coisa, nada de resultados efetivos. 7 dias e uma infecção vaginal. Por um erro médico (e como eu amaldiçoo essa médica até hoje!) eu fui prescrita para indução de parto. O Gael corria risco de vida. No 8º dia, enfim, Deus colocou uma santa médica que prescreveu a cesariana. E mesmo assim, ela só ocorreu 8 horas depois de muita espera dentro da sala de parto. Tive crises de ansiedade, vontade de socar o mundo. Quando o Gael nasceu, eu também não pude tocá-lo, pois ele nasceu prematuro e com insuficiência respiratória, indo direto para a UTI. Não dormi com meu filho em sua primeira noite de vida.

Fui colocada em um leito onde não havia nada para me distrair, além de outros bebês e mães igualmente cansadas. Quando o Gael veio para o meu quarto, como eu já disse em outro post, as experiências foram mortificantes: as noites sem dormir, o peito doendo, a falta de liberdade de ir e vir sem ter que carregar o bebê junto, tudo sendo novidade pra mim. Fora os 7 dias que me mantive na maternidade para que o Gael ganhasse peso, fizesse exames, toda uma burocracia que me deixava cada vez mais triste.

Quando cheguei em casa, não me sentia nem um pouco melhor. Pelo contrário. Comecei a sentir tudo o que minha mãe falava na minha gestação. “Sua vida acabou!”, “Tudo vai ser mais difícil agora.”, “Você não vai arranjar nenhum homem que te queira com um filho”, “Não tem mais dinheiro nem liberdade agora.”, “Você não vai mais viajar, nem conhecer outros lugares, ou sair.”. Eu tinha 19 anos e não podia sair de casa pra comprar um chiclete sozinha. Aquilo me angustiava de tal forma, que eu comecei a perder a vontade de viver. Viver pra quê? Não tinha mais vida, nem sexo (sim, isso me importava), nem uma faculdade, nem um emprego, nem um dinheiro só pra mim. Eu só tinha um filho e uma vida de dívida com os meus pais, afinal, ela me aceitou com um filho. Uma cicatriz da cesárea me torturava: que homem ia me querer com aquela coisa horrorosa no meio do ventre? Tudo foi ficando mais sombrio pra mim. Chorava constantemente, não queria comer, e cuidar do meu filho se tornou apenas uma responsabilidade. Responsabilidade séria: como o Gael nasceu com uma saúde frágil, ainda me angustiava que meu filho pudesse adoecer ou perder peso, além da hérnia inguinal que ele apresentou ao nascer. Nada pra mim era motivo de alegria, nada me agradava, eu literalmente vegetava e amamentava. Só. Se eu pudesse morrer, seria um alívio. E só não tentei o suicídio porque eu pensava que alguém dependia e precisava de mim – o meu filho.

O mais curioso é que eu recusava ajuda. Por mais de mil vezes, o pai do Gael – que aturou muitos dos meus foras e minhas frases dolorosas sem pestanejar, coitado – sugeriu que eu procurasse um psicólogo, pois eu estava com depressão pós-parto. E eu negava o fato. Não estava, eu não estava depressiva, eu repetia pra mim mesma.

Meus pais começaram a se preocupar com meu estado de espírito. Que não estava ali, óbvio. Eu não sei onde eu fui parar, na verdade. Me perdi de mim mesma. Eu vivia mecânica e automaticamente, fazendo o que deveria ser feito e deitada. Sempre dormindo. Dormir era o melhor remédio pra esquecer-se da vida.

Até hoje, não sei como me recuperei. Acho que foi um conjunto de coisas. Comecei a ver que a situação era aquela e não dava pra mudar. Morrer eu não podia: tinha um filho pra criar. Eu já tinha casa, comida e pais que me apoiavam. O resto eu teria que correr atrás. Meu filho ganhava muitas coisas de todo mundo, e hoje quase tudo que ele tem, não tenho vergonha de falar, foi doado. Percebi então como eu era abençoada. O que eu e o pai não pudemos dar à ele, Deus fez questão de prover. Meus amigos me apoiaram muito – os verdadeiros, e mais íntimos, claro. Inclusive o pai dele, que apesar dos pesares, sempre se mostrava disposto à falar comigo quando eu precisava conversar. Mas com certeza, meu maior remédio foi o Gael. Como resistir à ele? A seus olhinhos puxados e seu sorriso sem dentes? Comecei a encará-lo como um presente. E realmente, ele se mostrou ser um.

Mas isso, é bom que eu diga, não foi da noite pro dia. Demorou. Bastante. E vez em quando, ainda tenho muitas crises emocionais. Pelos mesmos motivos. É muito difícil se erguer sozinha. Mas é fundamental tentar. Mas é sempre importante, válido e bem mais fácil contar com a ajuda de um terapeuta ou psicólogo. Um profissional sempre vai saber o ponto certo onde a gente deve recomeçar. Avós, pais, maridos, amigos, madrinhas, padrinhos, todos também são super válidos nesse processo de melhora. E, superando alguns mitos que vocês insistem em justificar:

·         Depressão pós-parto não é frescura. Principalmente porque a gravidez não é apenas um milagre biológico. Há milhões de combinações hormonais trabalhando no corpo da mulher, e isso é capaz de enfraquecer qualquer psicológico. Principalmente porque um filho é algo que muda completamente a vida de qualquer pessoa.

·         Não há culpado para a depressão. A não ser, talvez, os hormônios. Não culpem a mulher nem falem “sai dessa”; você acha MESMO que ela escolheu estar nessa situação?

·         Você pode ajudar. Tente animá-la, e principalmente, não sobrecarregue-a no papel de mãe. Eu, por exemplo, precisava me sentir mulher, não apenas mãe do Gael. Tente explorar esse lado nela: vendo os filmes preferidos, trazendo chocolates ou mimos para ELA, e não somente para o bebê. Isso vai ajuda-la a perceber que não perdeu a própria identidade.

·         Psicólogo/terapeuta/psiquiatra não é apenas para malucos. Ele pode e DEVE ser procurado quando há um caso de depressão pós-parto, não só para facilitar as coisas, mas porque depressão é uma DOENÇA e deve ser tratada como tal. Ele ainda pode indicar, em certos casos, remédios específicos, até homeopáticos, que aliviarão os efeitos e ajudarão a mamãe.

 

Não sou psicóloga nem nada do tipo, mas tentei passar algo que me ajudou ou me ajudaria no meu caso. Depressão é algo difícil e pós-parto muito mais, pois há um bebê dependente de alguém doente. Não espere para pedir ajuda, NEM NEGUE, como eu fiz. Eu perdi preciosos momentos que poderia ter curtido com meu filho, não porque eu quis, claro, mas talvez se eu tivesse procurado apoio psiquiátrico, teria me curado bem mais rápido.

Cada minuto da vida de mãe é único. Não o desperdice!

 

P.S.: Obrigada aos meus papais, que me puseram pra cima. Ao papai do meu filhote, que me ouviu muito. Às madrinhas do Gael e meus amigos, com quem pude desabafar. E à Thatielle, minha amiga íntima e mamãe do Miguel, com quem pude compartilhar essa experiência. Depois conto a história dela aqui. <3

Comentários

  1. Parabéns Karol...
    Sei bem como se sente..
    Fui mãe aos 19 anos...
    Sei o quanto e difícil, o quanto nossa vida muda..
    Hj aos 33 posso dizer que tudo mudou,hj sou outra pessoa,e tenho certeza que não seria a mesma pessoa se não existisse Felipe na minha vida....
    Foi difícil,mais posso dizer foi maravilhoso,foi incrível ser mãe aos 19
    E saiba que se precisar estarei aqui para te ajudar...
    Como é fantástico SER MÃE

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  2. Aguardo ansiosa para que conte a minha história, irmã.

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  3. Aguardo ansiosa para que conte a minha história, irmã.

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