Noite de insônia não-materna

Hoje não consegui dormir e vim postar; meus pensamentos me perturbaram e me deixaram cada vez mais irritadiça e me consumiam por dentro. Então decidi falar do último motivo que me fez sumir um bom tempinho daqui: minha depressão. E o título de minha postagem é que, pela primeira vez, meu post não será direcionado à minha vida com o Gael. Graças à Deus, ele não tem participação nenhuma no meu quadro de saúde mental. Pelo contrário: ele é um dos poucos que conseguem me motivar a viver e brincar.

Já postei aqui que sofri de depressão pós-parto, e que ela influenciou profundamente no meu amadurecimento como mãe e no vínculo que estabeleci com o meu filho logo após seu nascimento. Depois de experimentar a sensação de ser uma mãe depressiva, eu achava que não teria pior sentimento ou vida do que a que vivi durante aqueles meses. Até... Bem, até bem pouco tempo.

Eu percebi que pior do que a tristeza profunda, a vontade de chorar, a raiva e tudo o que ela trazia, era o nada. O vazio. A sensação de que você vive por nada e por nada você permanece. E quando, em poucos instantes você tem algum sentimento que o preencha, ele é sempre negativo, visto que vivendo por nada, nada alegre pode vir disso.

Vivi momentos horríveis nos últimos meses. Quase não falava e quase não me motivava a fazer nada. Medo, culpa, irritação, auto-tortura eram coisas que se tornaram habituais no meu dia-a-dia. E percebi que as pessoas, muito eloquentes para opinar, pouco sabiam sobre a doença. Pra começar, a maioria delas nem achava que era doença. Fui julgada como fresca, ou mentirosa, afinal, se eu não tinha emagrecido 7 quilos ou estivesse pálida como sol e com olheiras do tamanho da África, como poderia estar com depressão?

Eu tinha cinquenta motivos para não viver e apenas um para continuar viva: o meu filho. E até nisso, as pessoas me culpavam. "Você não pode ter depressão. TEM UM FILHO PRA CRIAR!" (como se eu não fosse gente e depressão desse em poste). E como se eu também não soubesse disso.

Larguei muita coisa nesse tempo. Fui largada também. Mais largada do que larguei. E isso só piorou tudo o que eu sentia e me levou mais fundo ainda no enorme poço em que me tornei.

Percebi que as pessoas têm muito pouco respeito por quem sofre disso. Que a depressão é encarada como se você fosse o único responsável pela sua doença e pela cura dela (antidepressivos pra quê? quem foi o idiota que inventou mesmo? tolinho). Que você "têm todo o lado bom da vida" pra ver. Que "tanta gente tá aí passando fome na rua e você reclamando de barriga cheia". E que "tá sorrindo, postando foto no Facebook, saindo pra passear, não sei que depressão é essa". É nisso que se resume um quadro clínico que leva muitas pessoas à automutilação e ao suicídio. Não saber ver o lado bom da vida.

Outro lado interessante das pessoas depressivas: se elas não são mentirosas ou exageradas, elas são dignas de pena. Não raro, quando as pessoas sabiam do que estava se passando comigo - por motivos de força maior, porque acredite, ninguém gosta de sair espalhando por aí que é depressivo - elas me olhavam com aquele olhar de "ó meu deus, que pessoa incapaz". E isso era mais um balde de água fria na minha autoestima, que já não estava alta.

Depressão não é chorar 24 horas, nem evitar o sol estilo Edward Cullen. As pessoas manifestam seu estado mental de diversas maneiras.   

Passamos pela fase do exagero, da vitimização e tá tudo ok. Ótimo, a pessoa entendeu que é uma doença, que você não tá de frescura e que deve ser encarado como tal. Mas não entende que essa doença tem desdobramentos, e que esses desdobramentos não vão se apresentar da forma como ela quer.
Deixei muito tempo entalado na garganta uma coisa muito necessária de ser falada: NÃO, EU NÃO TE DEIXEI DE LADO NA MINHA VIDA.
Mas não é porque tô depressiva que tenho que abrir minha vida e meus sentimentos pra ti.
Nem aceitar todos os seus convites pra sair.
Nem sorrir, brincar ou reagir do modo como você quer, quando você quer.
Toda ajuda é bem-vinda. Mas a ajuda é feita em benefício do outro, não seu.

Aceite que quem sofre de depressão muitas vezes vai sorrir querendo chorar. Vai chorar querendo rir. Vai dizer não querendo lá de dentro dizer sim. E vai dizer sim, com todo o cérebro dizendo não.
Reagir não é fácil. Viver não é fácil. Dormir não é fácil. Acordar também não.
Tentativa de suicídio não é vitimismo, nem tentativa desesperada de chamar atenção. Na verdade, na verdade, quando um depressivo tenta suicídio, em 90% dos casos a última coisa que ele está pensando é na sua opinião.

Ainda está sendo difícil me recuperar. A saúde física está diretamente ligada à mental, o que causa muitos desafios e problemas. Mas estou tentando. Desabafar foi uma boa coisa. Fazer um post no meio de uma insônia foi uma forma de lutar contra pensamentos horríveis e muito dolorosos. Reagi.

Esse post não está nada organizado, nem um pouco. Nem fiz questão de que estivesse. A intenção é que fosse isso mesmo: um desabafo.
E foi.
Desde já, peço desculpas por fugir das aventuras maternas que compõem esse blog. Mas, repensando, ser mãe mudou totalmente a minha visão da doença.

Não foi muito com a intenção de que as pessoas lessem. Mas se alguém leu, que a sementinha que eu coloquei nesse blog vá até esse alguém, e plante um sentimento. De preferência, bom.

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