Diálogo sobre a TCD (Teoria de Crianças-Demônio)

08 de maio, dia das mães!

Mais uma vez dei uma sumida, mas tenho guardado uns escritos pra por aqui e em breve se Oxalá permitir eu vou conseguir liberar todos aqui, pra quem quiser ler.

Hoje um assunto em particular me angustiou o dia inteiro, apesar do dia, em função do capitalismo, ser todo meu. 
E esse assunto é o nome do meu blog, e o quanto ele está fazendo sentido ou não.

Há um tempo, o nome dele era Sonhos Em Colisão. Em tempo, resolvi mudar o nome dele para Uma Mãe Feminista, que é o que sinceramente, me contempla mais. Ou me contemplava, não sei mais dizer.
O feminismo sempre foi um espaço muito hostil às mães. Entretanto, de uns tempos pra cá, a pauta da maternidade compulsória e sua respectiva desconstrução - que diz muito sobre mulheres que não querem ter filhos - vêm conflitando diretamente com a pauta da maternidade feminista, quando na verdade, elas deveriam andar juntas. Mas ok, com essas dificuldades a gente consegue dialogar, uma vez ou outra, né não? Opiniões divergem, comum.

Eis que me deparo com um print de uma mulher falando que ter filho não era uma bênção (até aí ok, ótimo, vamo romper com essa romantização da maternidade), só se fosse "bênção do capiroto" porque "criança é tudo demônio". E eu fiquei chocada com tanta coisa errada junta numa declaração só. Vamos analisar essa declaração, porque meu instinto problematizador não consegue ficar quietinho no canto.

Sobre crianças:

Primariamente: a partir do momento em que você fala que crianças são demônio, você se coloca como demônio devidamente crescido e socializado. Você, eu e todas as pessoas do mundo já fomos demônios. Já choramos, fizemos birra, perguntamos sobre tudo e não sabíamos de muita coisa. 
Segundo: a partir do momento em que você fala que crianças são demônio e exclui elas de um espaço, você exclui também as mães delas. E principalmente num espaço feminista, isso é potencialmente problemático.
Terceiro: existe uma diferença gigantesca entre não saber lidar com crianças e demonizar crianças. Se você se sente desconfortável em lidar com crianças, não gosta ou simplesmente não consegue estabelecer um contato, você pode aprender o mínimo, tentar melhorar nesse sentido ou na pior das hipóteses, não fazer nada. Você só não pode demonizar e rejeitar um grupo que nunca fez nada pra você.

Sobre mães: 

Você que luta contra o patriarcado: você sabia que a mãe é um dos elementos emblemáticos desse - esse sim - demônio criado pelo homem? Uma mãe tem que lidar com dificuldades que você, mulher sem filhos, nunca sonhou. 
Mãe sofre com a romantização da maternidade e essa cilada faz com que ela muitas vezes tenha problemas psicológicos por se achar uma péssima mãe.
Mãe sofre com a sobrecarga em cima dos ombros, porque nessa sociedade pai serve pra quando a mãe não tá perto. 
Mãe sofre com a jornada dupla, ou tripla, que impede que ela se dedique de coração ao seu trabalho, ao seus estudos ou à sua casa, porque na maioria das vezes, ela tem que ser um pouco dos três.
Mãe sofre porque quase sempre ela não tem o direito que você, mulher sem filhos, tem: o de ser mulher e de opinar por si. 

E principalmente: a mãe é responsável pela construção e socialização de uma criança em formação. Socialização e construção que o feminismo luta profundamente para mudar. 

Ela deveria ser seu foco, porque é ela quem vai criar o adulto de amanhã.

Entendam que criança chora, faz pirraça, irrita, muitas vezes, sim. O método de comunicação da criança difere completamente do seu, porque ela ainda não sabe se comunicar. Lidar com crianças não é fácil, e por isso mesmo, a desconstrução da maternidade romântica é tão importante e necessária. Mas tenha certeza que seus preciosos ouvidos e sua paz sofrem bem menos do que qualquer mãe diariamente. E o feminismo nunca será feminismo enquanto ele não abrigar as mães em seus espaços, de uma maneira completa.

Chamar filhos de outras mulheres de demônios não te faz desconstruída, muito menos feminista. Te faz uma mulher umbiguista e sem empatia.

Demoníaco é pensar que excluindo crianças de um movimento essencialmente feminista, o patriarcado será abolido.

Meu filho não é demônio. E vai ter mãe no feminismo sim!

Na foto: Gael (ou Gaevil) com seu olhar demoníaco.

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