"Bandido bom é bandido morto": e se seu filho fosse o bandido morto?

Hoje acordei com a notícia de que o filho da funkeira Tati Quebra Barraco havia morrido numa operação da PMERJ na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. Quando soube, me compadeci da dor dela e fui ler a notícia, meio incrédula, mas ainda assim revoltada com a situação que é recorrente não só aqui no Rio, mas em todo o Brasil. Li a notícia inteira, divulguei na página, comentei sobre o assunto, ainda sensibilizada com aquela morte. 
Eis que quando visito a página da Tati, para ler o que ela disse sobre o assunto, me choco com os comentários publicados em sua página. Pessoas questionando se ele de fato era "tão honesto assim", sugerindo que ele teria envolvimento com o tráfico de drogas. Outras questionando o que ele estava fazendo na rua àquela hora da manhã (?). Alguns comentavam sobre o calor do momento da guerra e sobre ter sido a decisão mais acertada dos PMs. E em meio à uma enxurrada de comentários torpes e insensíveis, uma menina comentou dizendo "ser mãe preta na favela é difícil num país racista. Que a força superior esteja com você".
Tati Quebra Barraco, funkeira e mãe de Yuri, de 19 anos, morto
pela PM numa operação na Cidade de Deus
Aquelas palavras ecoaram na minha cabeça durante alguns minutos. Ser mãe preta. Principalmente de um menino, também negro. Imediatamente me imaginei mãe do Gael com 19 anos. Balancei a cabeça umas 30 vezes, pra ver se passava aquele sentimento horrível.

Uma notícia da Folha de S. Paulo dizia que Yuri já tinha passagem pela polícia pelo roubo de um boné. Matéria tendenciosa, como a grande mídia é, onde o preto sempre é o questionável e bandido. A PMERJ deu sua versão dos fatos, de que no conflito, se depararam com dois traficantes armados e atiraram, atingindo as vítimas.
E nos comentários, o quê? A célebre frase "bandido bom é bandido morto".

Mas quando a PMERJ não matou um jovem negro e ele não era bandido?
Pra sociedade, nunca. Pra favela, milhares de vezes. 
Jhonata, 16 anos. Morto com um saco de pipoca no Morro do Borel, no Rio. A PM disse que eram drogas. Como ele, vários. Porque um jovem negro sempre é bandido. Não interessa se tem arma ou não tem arma. Prender? Pra quê, se é mais fácil matar?

Poucas pessoas se compadeceram com a dor de Tati. O fato é que, sendo bandido ou não - o que não sabemos -, ele morreria de qualquer jeito nas mãos da Polícia Militar. Porque era preto. Porque era favelado. Porque estava andando na rua. Porque mexeu no cabelo. Porque ele existia, e preto na favela não pode existir - é suspeito só pela cor. 
Porque é mais fácil matar, torturar e extinguir - pra virem mil outros mais para morrerem, num eterno círculo vicioso onde ninguém ganha - do que reeducar, prender, ressocializar, reestruturar. 
É mais fácil subir a favela pra matar do que pra construir. 
Que o povo preto morra: de bala perdida, de fome, de miséria, de tristeza, de solidão, de esquecimento. A polícia sempre cumprirá seu papel heróico de matar mais. 

Mas e se o bandido morto fosse o seu filho?

Será que a vida dele teria tão pouco significado assim?
Será que de fato ele mereceria morrer?
Será que ele seria um a menos na sociedade?
Será que seu dia ficaria mais feliz e a cidade mais limpa sem a vida dele?
Será que a polícia estaria cumprindo seu papel direito?


Tristemente, só se pensa em direitos humanos quando pensamos no que pode ocorrer com os nossos filhos. Mas a realidade é que, para a mãe negra, sempre ocorre. Sempre acontece. Sempre está aí, a dor dilacerante de ver seu filho num caixão e saber que amanhã, será o filho da vizinha, da colega, da manicure. 


A vida dos nossos filhos não importa. A vida de Cláudia não importou. A de Amarildo também não. .A de Rafael Braga não importa até hoje. Mas quando vai importar? Quando vai importar a nossa dor? Quando a minha dor será tão grande quanto à do filho da atriz global?
Quando farão protestos pela vida do meu filho? Quantas vezes o caixão dele irá fechado, pelo rosto desfigurado pelos seus assassinos?
Quando os assassinos dele serão chamados de assassinos, e não heróis?



"O ser humano é descartável no Brasil, como modess usado ou bombril.
Cadeia? Guarda o que o sistema não quis. Esconde o que a novela não diz. Ratatatá! sangue jorra como água. Do ouvido, da boca e nariz.O Senhor é meu pastor... perdoe o que o seu filho fez. Morreu de bruços no salmo 23..." 
(Racionais MC's)


Comentários

  1. Mim dar vontade de vomitar quando vejo alguém defendendo bandido ...e falando mal da pm intao quando eles entrar na sua casa chama o Batman

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  2. Uma Policial militar foi morta covardemente por bandidos na região metropolitana de Curitiba , ela ja tinha sido rendida e mesmo assim foi executada , agora pergunto e se a PM fosse da sua familia ?

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    1. Eu teria redigido o mesmo texto em favor dela!

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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    3. Ou seja: a sua resposta só mostra o quão egoísta e indiferente você é. Você não defende a equidade, você não luta contra o abuso sexual infantil. Você luta pela SUA gente. Apenas isso. Sabe qual e diferença entre uma mãe rica e branca que defende o seu filhinho que estupra ou mata e uma mãe pobre negra que defende seu filhinho traficante que gera muito mais mortes e estupros? A mãe de traficante tem o respaldo dos movimentos sociais. Não eu não sou uma moralista como vocês gostam de rotular como forma de silenciar, de calar. Eu sou ex-feminista, ex-esquerda e vitima de abuso; quando me dei conta do que realmente era pulei fora. A sua galerinha sempre foi a favor do estupro infantil desde os primórdios. Mas a culpa é sempre do capitalismo, da bebida, do tráfico... Do homem? Só se ele for branco-burguês-heterossexual. Não vi nenhuma postagem se colocando no lugar das INÚMERAS MÃES brancas que estão tendo seus filhos estuprados, tendo a guarda retirada ou sendo assassinados nas escolas. Não vejo você se indignando pelas culturas oprimidas (índigenas, islâmicos, da favela) DEFENDEREM ABERTAMENTE O ESTUPRO DE CRIANÇAS e mais ainda... defenderem o estupro de MENINAS BRANCAS BURGUESAS dizendo que são MIMADINHAS POR RECLAMAREM DO ESTUPRO. E não venha me dizer que é a burguesia que alimenta o tráfico que por sua vez alimenta a violência. Um segredinho: tanto a esquerda quanto a direita alimentam o tráfico, mas a esquerda alimenta muito mais. Não sei como eu aguentei anos e anos sendo humilhada por uma negra que utilizava a meu sofrimento relacionado à violência que sofri. Sendo que eu defendia ela pela sua condição de oprimida da sociedade e não reagia justamente pelo sentimento de culpa que vocês nos impõe. Eu não tinha ninguém. As pessoas me odiavam por eu tentar falar dos abusos. Quando comecei a reagir a esta mulher negra (simplesmente parei de cumprimenta-la e evitava contato com a mesma)... veja só.. aí todos ficaram com mais ódio de mim porque aí eu era "racista". VOCÊ ME DÁ N-O-J-O.

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