Luz fosforecente...

... É a única coisa que eu via naquela maldita Sala Amarela. Um monte de gente doente (e bem pior do que eu), mas os enfermeiros eram tão bonzinhos que dava até pena de reclamar. Ninguém sabia que eu estava grávida - nem o médico. Eu tomei 12 litros de soro durante 3 dias e não comi absolutamente NADA. Mas a sede era insuportável. Queria beber tudo que tivesse na minha frente. É horrível ficar internada, ainda mais na UPA, onde você só pode ver gente normal durante 1 hora, de 14h as 15h.
Com base em todos os meus conhecimentos psicológicos, creio ter entrado em depressão quando fiquei internada. Não queria falar com ninguém. Nem ver ninguém além dos meus pais. Faculdade, amigos, outros parentes: ninguém sabia que eu estava internada. Até porque eu também não dava notícias. Minha mãe deixou o celular comigo, para que eu entrasse no Facebook, ligasse pra conversar, essas coisas. Nada. Nem encostei no bichinho, e nos poucos minutos que eu o utilizava, era para atender ela mesmo (era muito bom falar com a minha mãe nesse período). De resto, minha vontade de fazer as coisas era zero. Nem o Ricardo sabia que eu estava internada (e eu também não queria que soubesse. Não queria ninguém perguntando se eu estava bem nem nada do tipo todo dia).
No terceiro dia, que segundo o último médico do plantão, seria minha alta, o plantão trocou. O médico seguinte disse que eu seria transferida para o Carlos Chagas (em MARECHAL HERMES, um lugar muito pertinho pra quem morava na Lapa) e ficaria internada mais 10 dias. Olha pra minha cara de quem ia ficar mais 10 dias naquele inferno de rotina de hospital, com cheiro de éter, sem ver gente, no cú da zona norte? Liguei pro meu pai e saí à revelia no mesmo instante. A enfermeira ainda tentou me convencer, mas nem tinha conversa. Fui em outra UPA, consegui outro antibiótico e fui me tratando aos poucos, na casa da minha madrinha.
O interessante da história é que ele descobriu minha internação. Não por meios comuns, báh, mas pelos métodos super investigativos dele - ligar para todos os hospitais e UPAs do Rio de Janeiro, contando uma história mirabolante, até conseguir meus dados médicos. E ele conseguiu. E me ligou pra me espinafrar, claro, óbvio, porque eu estava com um filho na barriga e nem havia comunicado ele de nada. Nos odiamos, brigamos, discutimos, e dias depois, estávamos assumindo que ainda gostávamos um do outro. Foi escroto.
Nesse meio tempo, também troquei de casa. Fui morar no Andaraí, o bairro que na minha infância eu amava de paixão, e agora estava odiando (depois que se mora na Lapa, nenhum bairro é suficientemente bom).
Na verdade, eu estava odiando o mundo. Minha infecção passou. Mas a minha tristeza.. Só estava começando.

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