Positivo!

Eu me sentia completamente tranquila. Minha menstruação tava atrasada, mas... e daí? Ela sempre fez isso mesmo, não ia ser a primeira vez. Além disso, eu tinha total e completa certeza de que era infértil e que precisaria fazer aqueles tratamentos caros e astronômicos para conseguir engravidar quando casasse. Eu só tinha parado de tomar a pílula há 2 meses, dizem que o efeito demorava pra passar... Enfim, não existia a MENOR possibilidade. Mas ia fazer, só por desencargo de consciência.
Coloquei a fita na urina com a maior calma do mundo, e quando a primeira linha vermelha subiu, eu já me virei de costas pra fazer outra coisa, certa de que o exame era negativo. Quando virei de volta, um sobressalto: haviam duas linhas ali. DUAS LINHAS VERMELHAS. Positivo. 
Minha mente repetia aquele resultado trezentas vezes. POSITIVO. POSITIVO. POSITIVO. 
As lágrimas (e o pleno, total, completo desespero) foram inevitáveis. Eu não sei como não perdi todo o meu cabelo de tanto que o puxei, nem como meu sistema respiratório se manteve ativo, como eu soluçava. Eu sempre imaginei aquela notícia como algo tão bonito, onde eu ia gritar de felicidade e comemorar que nem nas novelas. Doce ilusão...
Liguei pra ele completamente desestruturada e no chão. E me irritava o jeito como ele parecia calmo no telefone: "calma, vamos resolver isso, eu tô indo praí, a gente vai dar um jeito...". COMO ASSIM DAR UM JEITO? Eu gritava mentalmente, como assim eu era a única desesperada na situação? Eu não sabia o que fazer com as mãos, como agir, só conseguia chorar e gritar. 
Mas, como tudo que eu sinto, essa reação monstruosa durou pouco. Consegui parar de chorar convulsivamente em meia hora. Só o tempo dele aparecer lá em casa. 
A gente conversou e acho que não adiantou de muita coisa. Nenhum dos dois sabia o que fazer. Percebi, quando ele chegou, que de fato, eu não era a única desesperada na história. Ele também tremia, suava e não sabia o que dizer, falar ou sentir, tanto quanto eu. Mesmo assim, parecia que a gente já havia criado um laço com um bebê que a gente nem sabia se ia vingar ou não. 
Eu tinha 19 anos e tinha acabado de entrar na faculdade, o maior sonho da minha vida, tão acalentado durante anos e anos. Ele tinha 21, estava prestando vestibular e nem trabalho tinha. O que a gente ia fazer com uma criança? Brigamos, concordamos, discordamos, nos reconciliamos e ainda assim, voltando pra casa, eu não sabia o que fazer. E eu pensando que o início tinha sido tranquilo.

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