O peso da juventude

Tão engraçado o título desse post. Mas foi exatamente o que eu pensei há uns dias atrás, nessa contradição, quando passei por uma certa situação.




Essa semana estávamos eu, Gael e o pai dele comprando besteiras, pra passar o dia com o filhote mesmo. Passou uma senhora, naturalmente atraída pelo bebê, e falou simplesmente "que fofo, duas crianças tomando conta de outra criança". Eu parei, respirei, olhei pro lado e tal. Primeiramente a gente ficou irritado com tamanha indelicadeza e falta de tato do comentário da mulher. Mas depois parei e fiquei pensando que a opinião dela é a que a maioria tem de nós. Que somos imaturos demais para criar um filho. E pensei que se eu, que tenho 20 anos e ele 22, sofremos esse preconceito, imagina tantos outros pais bem mais jovens que nós, que recebem esses mesmos olhares preconceituosos.


É fato que um filho, no geral, não está bem nos planos de pessoas da nossa idade, quanto mais no de pessoas bem mais novas que a gente. E geralmente, como não é planejado, tudo é tratado muito às pressas, do jeito que dá, improvisando e tentando fazer o melhor pra que não falte nada para o pequeno que está por vir. Mas será que o fato de sermos jovens, nos faz pais menos dignos que os outros, que planejaram, almejaram e acalentaram o sonho da gravidez?


Eu acho que até, em muitos casos, nos faz mais. E agora, falo muito por mim. Engravidei com 19 anos, no segundo período do meu sonho maior, a faculdade de história numa faculdade de renome, sem estrutura financeira nenhuma pra chegada de um bebê. Encarei a gravidez como um sonho antecipado, mas logo depois, eu vi que seria um desafio perante os outros. E eu mesma me julguei muito. Você dá a notícia aos mais próximos, e o primeiro olhar é sempre aquele de "mas tão novinha?". No pré-natal, a obstetra te olha com estranheza. As pessoas te taxam de irresponsável como se você levasse uma plaquinha de "eu não presto" bem na testa. Ah, e como sempre, tentam sempre atrelar sua gravidez com a vulgaridade. Principalmente para quem, como eu fui na gravidez, é mãe solteira. O preconceito com o pai jovem ainda é bem menor nessa fase - o que tem um motivo nítido: ele não carrega uma barriga imensa pra lá e pra cá. Até na maternidade, principalmente nas públicas, onde infelizmente me mantive no nascimento do Gael por 16 dias, as mães menores de 21 sempre sofrem discriminação.


Mas os mesmos que pensam assim, esquecem que nós, na maioria das vezes, abrimos mão de muitas coisas por nossos filhos. Eu parei a faculdade, meu maior sonho. Deixei de viver viagens, tardes no cinema e oportunidades de emprego e de conquistar minha independência mais cedo pelo Gael. Tive o apoio dos meus pais, mesmo contrariados. Mas sou mãe em tempo integral. Fico com meu filho sozinha de segunda a sexta, cuido, levo no médico, não delego a ninguém minha função de mãe. Os pais, embora não tanto quanto as mães, também deixam de se dedicar a muitas coisas pelos filhos. E isso nos faz crianças? Incapazes de cuidar de um filho? Uma mãe ou um pai jovem é obrigado a amadurecer e criar responsabilidade mais cedo, enfrentar desafios e obstáculos, improvisar muitas vezes, enfrentar preconceitos em prol de seu filho. E isso pra mim, é a maior dignidade do mundo.


Enquanto estava grávida, e pouco depois do nascimento do Gael, eu também pensei esses horrores de mim. Mas o tempo faz milagres. E com o avanço do crescimento do meu filho, pude perceber que eu sou muito mais mãe do que muitas por aí. Que abrir mão de muitas coisas por ele não foi um erro, foi uma prova de amor. A irresponsabilidade de uma gravidez não planejada na juventude não mancha os sacrifícios que uma mãe ou um pai faz por seu filho, seja lá quais eles forem. Sou madura o suficiente pra cuidar do meu filho e pretendo criá-lo para que ele seja digno e respeite o próximo. Dei parte da minha juventude, e daria minha vida, se fosse necessário. Acredito que essas mães e pais, que abdicam de muitos prazeres pela cria, são merecedores de todo o respeito e toda a dignidade do mundo. Bem mais merecedores do que tantos que julgam, sem conhecer, a vida de uma mãe ou um pai jovem.





À todas as mães que como eu enfrentaram esse desafio tão maravilhoso: parabéns pra nós!

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