O pai que querem as feministas

Eu fico impressionada com a criatividade das pessoas. Em geral.

Criou-se um "mito da feminazi" em que a maioria dos homens simplesmente acha que feminista quer atacar o sexo masculino. Que tem ódio de homens e que vive pra cortar o pinto alheio e enfiar cruzes e objetos religiosos ânus adentro. Ou então (esse é o argumento preferido dos conservadores), que as feministas são CONTRA A FAMÍLIA. Pra vocês eu só tenho a dizer: queridos, melhorem. O feminismo é muito mais que isso.

O feminismo inclusive pode (e na minha opinião, deve) ser pedagógico pra que vocês não cometam o erro de seus pais.

Inclusive, bonde da Marcha da Família com Deus pela liberdade, pamem! O feminismo quer que vocês sejam pais.

Na última postagem que eu fiz sobre a visão da mãe solteira, meu noivo me fez uma pergunta muito pertinente: "o que seria mais importante: uma mãe ter consciência de que ela pode criar o filho dela sozinha ou os pais terem consciência de que eles têm a mesma responsabilidade que a mãe sobre o filho?"
Respondi prontamente que os dois eram mais importantes, porque inclusive há mães por produção independente e mães lésbicas, e que a independência delas é indiscutível.

Mas depois fiquei pensando no quão absurdo é ainda se discutir se o pai vai ou não ser responsável pela criança. E no quanto isso é comum.

Vamos parar pra pensar: duas pessoas, conscientemente ou não, voluntariamente ou não, geraram uma criança. Ela cresce no útero da mulher. E depois de nove meses, nasce. Ela precisa ser amamentada, cuidada, embalada, limpa. E isso óbviamente deveria ser tarefa dos dois.

Mas quantos fraldários você já viu em banheiros masculinos? Quantas vezes você já aplaudiu um pai trocando fraldas, e achou aquilo maravilhoso, digno de foto? Quantos pais você conhece que acordam na madrugada para embalar a cria?

Mas ok, tudo bem. Vamos imaginar uma criança maior. Uns 6,7 anos. Ela fica doente, por exemplo. Quantos pais você vê na emergência pediátrica com as crianças? Quantos pais lembrar as horas dos remédios? Quantos pais acordam nessas horas de madrugada? Mas ok, a mãe estava ali e ele ficou curado. Chegou a agenda da escola. O bilhete é enderaçado ao "papai"? Não. É sempre "mamãe". Escrito por uma professora mulher, claro, porque mulher tem mais jeito com criança. Mas ok, a mãe respondeu. E ficou tudo certo.

Não, não está tudo certo.

As feministas querem sim que vocês sejam pais. Mas pais de verdade. Que vocês tenham consciência de que criar, trocar fralda, comprar material escolar e saber o nome do antialérgico não é "ajuda" - é sua obrigação. Que quando passar um fim de semana de 15 em 15 dias com seu filho, ele não é visita - você é responsável por ele durante esse tempo, não a mãe. Ela já é responsável por ele durante todo o tempo restante.
Queremos pais que também saibam dizer ao pediatra as alergias do filho e o que ele costuma comer. Que saibam sobre a vida escolar deles. Que cuidem das crias doentes. Que peguem elas no colo e levem pra todos os lugares.
Que tenham noção de que o orçamento de uma criança vai além de 150, 200 reais. Uma mãe gasta muito mais com seu filho, e o dinheiro não é ajuda nenhuma, é o sustento dele.
Queremos pais que saibam o número do sapato, das roupas, o peso, a altura. Que olhem a agenda do filho. Que se preocupem com as vacinas. Que tirem piolhos.

ISSO É SER PAI. Isso é o que as feministas realmente querem que você seja, e lutam pra isso.
E NÃO É SER UM SUPERPAI, NÃO.

Essas são as obrigações básicas.
Pra você realmente se considerar um bom pai, você tem que além de tudo isso, se entreter no lúdico da criança. Gostar de passar seu tempo livre com ele, contar histórias, brincar de boneca ou jogar futebol depois de um dia cansativo de trabalho.

Pra ser realmente um bom pai, você teria que ser uma mãe.

Então comece a se espelhar nela.

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