Gael procura a Dory. E um espaço.
Resolvi levar o Gael para assistir "Procurando Dory". Ele já tem 2 anos e 3 meses, o filme é infantil e seria a primeira oportunidade de levá-lo ao cinema.
Chegamos eu e toda a família do meu noivo, na sessão de 19h10 da noite. Entre muitas pipocas e refrigerantes, nos acomodamos ali nos assentos e Gael ficou no meu colo. O filme era 3D, mas o Gael não queria usar o tal do óculos de jeito nenhum. Ok né? Aquilo já começou a me dar agonia, porque ele veria o filme todo tremendo e talvez passasse mal. Mas ok, deixa ele ver o filme como ele quiser.
A sessão estava mega cheia de crianças e adultos. O filme começou. Gael começou muito comportado, apenas abrindo a boca algumas vezes pra falar coisas sem sentido, mas normal pra uma criança de 2 anos.
Com 30 minutos de filme, eu senti o efeito de 1 litro de refrigerante na minha bexiga: eu precisava ir ao banheiro. E tinha que levar o Gael, caso contrário, ele armaria um berreiro até eu chegar. Levantei e fomos até o banheiro. Voltamos. Sentamos. Ele tomou o resto do refrigerante e não quis me devolver. 40 minutos. Ele começa a cantar no meio do cinema um ponto de Oxum. 42 minutos. Ele quer fazer a poltrona da frente de tambor. 45 minutos. Ele começa a chorar, irritado e com fome. Com 50 minutos, eu acho que está insustentável ficar ali e saio.
Não assisti o final do filme.
Passei o resto da noite chateada, porque eu realmente queria ver o filme e ele não tinha deixado.
Mas quando cheguei em casa, parei e pensei: MAS PERA, O FILME NÃO ERA PRA ELE???
Eu me senti no dever de sair do cinema porque o Gael estava agindo como criança num filme destinado para crianças. E o pior, é que todo mundo achou que esse realmente era o mais sensato a fazer.
Percebem o quanto isso é absurdo??
A gente na verdade finge que tolera o comportamento infantil. Mas na verdade estamos pensando e fazendo totalmente o contrário! Estamos sempre repreendendo as crianças porque choram, brincam demais, riem, falam, interagem, perguntam. Repreendemos elas porque se comportam como crianças! Será que a ideia medieval do "adulto em miniatura" realmente foi embora? Ou será que estamos sempre esperando que as crianças se comportem como nós?
Daí você pergunta: Karol, por que você não levou ele numa sessão para crianças?
PORQUE NÃO TEM QUE TER SESSÃO SEPARADA DE UM FILME INFANTIL PARA CRIANÇAS.
Crianças precisam ser aceitas nos espaços. Elas não são um estorvo nem um incômodo, elas são seres humanos em construção!
A gente tem que rever as nossas próprias atitudes e ver se não estamos imprimindo um conceito de adulto no comportoamento de uma criança. Elas precisam ser ouvidas e ter suas expressões respeitadas. Não nascem sabendo nem ouvindo.
Falar de ouvir crianças dialoga diretamente com fazer as mães se sentirem à vontade nos espaços. É preciso que se respeite à infância pra que uma mãe não precise sair de uma sessão de cinema num filme infantil constrangida por seu filho se comportar como... Criança.
Ou para que uma mãe não se envergonhe do bebê chorando no metrô.
Ou para que uma mãe não precise se sentir mal quando seu filho bate o pé no supermercado e as pessoas a olham torto com cara de "essa aí deixa o filho fazer o que quer".
DEIXO MESMO. ELE É UMA CRIANÇA!
Meu papel é ensinar limites, não fazer com que ele ache errado se expressar.
Impor limites e educar com responsabilidade não tem nada a ver com adultizar crianças.
Respeitar as mães também é respeitar a infância dos pequenos!
Comentários
Postar um comentário