O sexo da mulher mãe

Já quero escrever sobre esse assunto há muito tempo, não só porque acho que ele é extremamente necessário, como passei por muitas experiências nesse sentido, e pouco se fala sobre isso. Na verdade, se fala sim, mas sempre de um modo que eu não acredito que seja benéfico para a mulher, de fato.

Eu sempre estive super em dia com a minha vida sexual, e pra mim ela foi super satisfatória SEMPRE. Eu estava sempre afim e quando não estava, era muito fácil me deixar ficar. Aí o Gael cresceu. Ficou em pé. Andou. Falou. Interpretou. E de repente,estar a fim não era tão mais fácil pra mim. Colocá-lo pra dormir sem mim ficou mais complicado. Depois de um bom tempo tentando fazê-lo cerrar os olhos, a última coisa que eu queria era cama (pelo menos no sentido quente dela). Ele começou a exigir de mim mais atenção para as brincadeiras, o futebol, o parquinho, a Galinha Pintadinha, a hora de comer. E quando ele finalmente tirava aquela sonequinha da tarde, pra mim, certas coisas eram mil vezes mais compensativas, como por exemplo, poder dormir. Eu costumo falar para as minhas amigas que eu não tenho tempo pra sexo.

Acontece que eu comecei, aos poucos, a morrer por dentro. A minha falta de desejo sexual chegou a tanto que eu não conseguia nem sentir vontade de me masturbar: só isso já era cansativo demais. Nem era cansativo, inclusive, porque eu não sentia a mínima vontade. Real. Sexo pra mim perdeu a graça, e isso começou a fazer com que eu não visse mais graça em mim como mulher. Eu não me sentia mais totalmente plena da minha sexualidade, e meu intenso debate feminista começou a não fazer sentido para a maior interessada no caso - eu. Eu ouvia na roda de amigos o assunto de sexo rolando solto, cheio de detalhes quentes e narrações efusivas, e me sentia pior ainda, porque eu não sentia aquilo. Por quê eu não sentia aquilo? O que tinha de errado comigo?

 A verdade é que a sexualidade da mulher é levada à um profundo corte com a chegada da maternidade, desde a sua essência. Quantos homens já deixaram de transar com suas mulheres grávidas, ou porque a santificavam, ou porque perdiam o tesão nela? Apesar de para alguns isso parecer absurdo, porque o corpo da mulher fica mais volumoso, com mais curvas e mais delineado, esse acontecimento é muito comum. Faz parte da cultura patriarcal rejeitar um corpo que gera outra vida. Fora o caso das mães solteiras desde a gravidez, em que um homem rejeita um corpo que gera outra vida de outro homem que não ele (pois ainda há aquele inconsciente do "macho alfa dominante" que é ferido com uma cria de outro "macho"), e que tem sua sexualidade e seus desejos totalmente defasados por simplesmente, falta de quem a queira. 

Superada a gravidez, vem o pós-parto. Um período dificílimo para qualquer mulher. Os hormônios estão à toda ainda. A amamentação é estressante, o bico racha, o bebê acorda de madrugada, o resguardo é necessário, as cicatrizes de uma possível cesárea ainda doem, as visitas que não param de chegar, vacina pra cá, vacina pra lá, bebê irritadiço muitas vezes, cólica, pediatra direto. Nenhuma mulher aguenta o cansaço que todo pós-parto traz, e ainda atender a demanda sexual do parceiro. Mas essa fase passa! Com certeza. E o bebê se torna mais independente, se comunica mais com o mundo ao seu redor. 

Mas ela ainda têm de enfrentar um outro fantasma: o corpo que muitas vezes, não volta depois da gravidez. Estrias, celulite, engordar e não emagrecer causam uma cobrança não só do parceiro, mas como de toda a sociedade. A todo o tempo, sempre vem alguém com uma dieta milagrosa que a tia da prima da irmã do marido seguiu à risca e conseguiu emagrecer. O creme milagroso - e que custa três dígitos - que ameniza suas estrias ao máximo. O tratamento ortomolecular, a acupuntura, o pilates, a ginástica olímpica. Tudo para que você se livre de vez daquele corpo horrendo que o seu filho (bênção de Deus, apesar do corpo, claro) lhe trouxe.




Aí eles crescem. E trazem todo o estresse que uma criança pode trazer. O estresse que na verdade, deveria ser compartilhado entre os pais, recai quase sempre sobre a mãe, que tem que conviver com rotina estressante de ser mãe, e muitas vezes, ser dona de casa, trabalhadora, estudante, esposa/namorada/afins. Seja seu parceiro ou parceira homem ou mulher, é difícil pra quem não é mãe e não sofre na pele todas as dificuldades que a maternidade causa, compreender que a o espaço do sexo muda drasticamente. 

Primeiro: isso não é anormal.  É natural que o sexo ocupe um espaço secundário na sua vida por algum tempo, embora isso não signifique que ele tenha que ser esquecido. Mas esqueça esses manuais que mandam você esquentar, preparar surpresas e afins, vestir lingeries sensuais. Esses manuais, geralmente, servem para que você agrade o homem, e não a si mesma. Vamos aqui a algumas sugestões que podem ser úteis pra você, e pelo menos foram úteis para mim. 

Passo 1 - Respeite a si mesma

Essa fase acontece e você não é um monstro por causa disso. Foi necessário muita conversa com sogra, mãe, e do meu companheiro para que eu de fato traduzisse que esse é um momento pelo qual eu passaria de qualquer maneira. O stress que a maternidade causa, infelizmente, quase sempre atinge somente à mãe. E somente você consegue entender o quanto está exausta, física, mental e emocionalmente pra fazer sexo.

Passo 2 - Não deixe que ninguém apague a sua sexualidade

Você, antes de mãe, é mulher. Tem desejos, vontades, hormônios, tanto quanto homens. Então não deixe que ninguém te diga que "agora que você é mãe não pode, não deve, tem que ser de outro jeito". Exerça sua sexualidade da maneira como você tiver vontade. quando quiser e puder. Mãe faz sexo como qualquer outra mulher. Inclusive mãe solteira. Mito da mãe santa não existe.
Também não anule sua sexualidade achando que não tem mais jeito e que é mais fácil viver sem sexo. A transa pode ser uma boa oportunidade também para relaxar, é só a gente saber descobrir.

Passo 3 - Entenda que a culpa não é sua (e não deixe que façam você pensar que é)

NÃO CAIA NO CONTO DE QUE "SE O CARA/A MINA NÃO TIVER EM CASA, VAI TER NA RUA". Além de isso ser extremamente permissivo e machista no caso dos homens, é uma falta de empatia tremenda. A falta de libido é algo que é natural numa mulher que está sob intensa pressão e cansaço, numa rotina estressante. Criança estressa, irrita e cansa. E a culpa não é sua. Se não tiver um parceiro ou parceira que compreenda isso, talvez esteja na hora de uma conversa beeem séria.
Portanto, não se obrigue a criar situações e climas se você não está pronta pra isso.

Passo 4 - Se, e quando estiver pronta, comece a criar alternativas para fugir do estresse da rotina EM CONJUNTO

Aí sim, depois de todos os três passos anteriores, comece a pensar em modos de escapar do que mais te estressa e te tira o tesão - a rotina. Talvez um motel, ou uma coisa diferente, um brinquedo especial, ou simplesmente uma viagem de fim de semana já bastam para criar um clima diferente. MAS NÃO PENSE QUE A RESPONSABILIDADE DE PENSAR ISSO É SÓ SUA. Sexo é divertido e gostoso para duas pessoas, e logo, a segunda pessoa interessada tem que se envolver e pensar junto com você. Sem essa de "já que eu não tô afim, eu que procure a saída". Como o passo 3 mesmo diz, a culpa não é sua.

Mas lembre-se: isso não é um manual. Nem super dicas infalíveis que vão dar sempre certo. Eu mesma, que criei essas sugestões básicas, muitas vezes vou me ver voltar ao passo 1. Porque sexo é constante mudança. Ele faz parte da sua vida e vai se adaptando ao momento de vida em que você está. O objetivo é ele ficar mais gostoso conforme mais íntimos vamos ficando do parceiro/a e de si mesmas. Mas se isso não estiver rolando, reveja, repense, esclareça. Tudo pode ser acertado com conversa.



Mas o principal é que as mulheres não se sintam  devedoras de sexo aos seus parceiros/as. NINGUÉM DEVE SEXO A NINGUÉM. Até porque relacionamento é conversa, beijo, riso, dificuldade, briga, vontade, cumplicidade e também sexo. A mulher já tem, social e culturalmente, sua sexualidade reprimida, e a maternidade intensifica isso. Então não se reprima ainda mais achando que o seu corpo é propriedade do parceiro/a, porque não é. Seu empoderamento começa também no conhecimento do seu desejo e de como e com quem você vai utilizá-lo da maneira que você se sentir mais à vontade, sempre se respeitando.

Achei que esse post ficou muito auto-ajuda, mas... Acredito que realmente possa ajudar um pouquinho muitas mamães que passam pelo mesmo problema.

Dedico inclusive esse post ao meu companheiro, que além de muito parceiro em vários outros sentidos, me ajudou a encarar muito esse lado mãe. Todo carinho à você, querido.

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