O estuprador em potencial - e como ele mina a confiança de mães de meninos

Oi, gente!

O blog está crescendo e eu estou mega feliz com isso, vocês não sabem o quanto. Consegui algo que há muito tempo eu queria com meus textos: construir debates em torno deles e assim a gente fomentar ainda mais algumas ideias e desconstruir muitas que a gente ainda tem resistência.
Pra nós, mães, esses debates ainda tem funções mais específicas, porque a gente consegue pensar alternativas, lúdicas ou não, para colocar essas desconstruções e ideias novas para nossos filhos e filhas, interpretando a criação deles como uma forma pedagógica de ensinar novos valores.
Em alguns desses debates, eu me deparei com uma frase que me soou muito violenta: "todo menino, mesmo criança, é um estuprador em potencial". Eu lembro que fiquei olhando pra tela do celular uns 30 segundos, tentando problematizar aquilo de uma forma mais racional que não me causasse tanta dor. Porque sim, causou dor. Ouvir ou ler que meu filho é um estuprador em potencial é muito doloroso.

Não deixo de acreditar que todo homem é um estuprador em potencial, mas acho que devemos esmiuçar melhor essa frase quando passamos ela para as crianças - os meninos, no caso.

"Todo homem é um estuprador em potencial" não quer dizer que todo homem vá estuprar uma mulher, mas que qualquer um dele tem potência física e principalmente social para fazê-lo.

Ora, uma criança não tem potência física nem social pra estuprar ninguém. Então vamos com calma.

"Mas a socialização machista existe, e a socialização não falha"

Primeiramente (fora Temer!): falha sim. Se a socialização não falhasse não existiriam trans, não existiriam ccrianças com sentimento transgênero, não existiriam gays nem lésbicas rompendo com o sistema. A socialização, tal como a estrutura social, permite brechas, e é nelas que nós estamos enquanto feministas, gays, lésbicas, trans, esquerdistas e afins.
Essa ideia de que a socialização não falha, inclusive, é falha pra todo preto que é considerado bandido e acaba faxineiro, pra preta que é considerada babá e vai pra faculdade e pra toda mulher que escolhe não ser mãe.
Falar que a socialização não falha é contradizer a própria luta pelos direitos sociais das mulheres, negros, pobres, LGBT e minorias.
Se a brecha serve pra gente se rebelar contra o sistema, por que ela não serviria pra construir um ser social melhor no mundo?

Nós, mães, temos o incrível (embora socialmente ele seja bem pequeno) poder de influenciar a construção social de um ser humano que vai fazer parte da sociedade futura. O que falamos, pensamos, indicamos, quais brincadeiras fazemos, tudo isso ajuda na construção de um novo ser.
A socialização vai influenciar em muita coisa? Vai sim. Mas, como dito antes, ela tem brechas. Já disse num debate e repito: se eu não acreditar na minha luta, deixo de lutar.

Saindo da socialização e focando num segundo problema, vocês já pararam pra pensar em como é para uma mãe, inserida ou não dentro do feminismo, ouvir que seu filho é um estuprador em potencial quando ele ainda é uma criança? Nunca pararam pra pensar no quanto isso afasta elas do movimento e desmotiva sua participação efetiva na sociedade, prejudica seu empoderamento e uma possível educação e criação menos machista?

A grande verdade é que falar esse tipo de coisa não acrescenta em nada no debate feminista e pelo contrário, esvazia debates que de fato deveriam existir. Políticas públicas para mulheres, para mulheres mães, para mulheres negras e periféricas, isso é um debate importante. Erotização da amamentação, isso é um debate importante. Falar que crianças são estupradores em potencial não é.

Seria bom que cada mulher pesasse bem o que fala para outra mulher. Sororidade é um conceito bem polêmico, mas respeito é essencial. Respeite a sua interlocutora. Respeite a história dela. Respeite as especificidades dela. Respeite os filhos dela e o que eles representam emocionalmente pra ela, mesmo que você não entenda. Sem empatia não há feminismo, nem pra você, nem pra nenhuma outra mulher.

Comentários

  1. Pois é...
    DOI de ler ou ouvir isso. Meu Jonas não ...tive um leve debate com meu marido sobre isso e tive que concluir que o termo estuprador em potencial acaba causando muitas controvérsias. Acho que devemos trabalhar o feminismo em outro sentido sabe? Não rotular o homem e deixar ele com isso. Temos que ensina-los, se não nada muda.

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