#MêsdaVisibilidadeLésbica: Nega Flor

Durante o resto desse mês, eu vou escrever bem pouquinho. Eu, eu Karol. Esse mês é tempo de dar vez e voz a um grupo que está quase sempre escondido pelo preconceito: as lésbicas.
A lesbofobia, diferente do que muita gente pensa, tem muitas particularidades e nem sempre - quase nunca - ela é caracterizada como homofobia. Como tudo em que a mulher decide, onde a mulher é o foco, a opressão se multiplica,  dependendo do recorte. E o recorte lésbico é uma opressão que PRECISA ser comentada, falada, dita, vista.
Esse mês eu (espero) contar com a presença de muitas mulheres lésbicas aqui, falando e comentando sobre suas experiências.

Com a palavra... Nega Flor:

"Visibilidade para mim é ser legitimada enquanto pessoa existente. É pertencer aos dados sociais. É ter uma família, amigos e sociedade como um todo, que reconheça a minha orientação sexual mas não me reduza a ela. Eu não sou simplesmente a mulher preta e lésbica, eu sou a Cláudia, a técnica de enfermagem, a estudante de Comunicação Social, a filha da Leila, a neta da Neuza, a mulher da Raiane, a dinda da Millena. Ou seja, eu tenho função social no mundo.

É muito difícil viver num lugar onde as pessoas não te enxergam como um todo. Fazem questão de exaltar sua sexualidade ou fazem questão de omitir ela. Como se você não pudesse existir em plenitude.

Eu não vou largar a mão da minha preta. Eu não vou fingir que ela não é a minha mulher para evitar que outras pessoas sintam-se constrangidas. Vai ter foto de beijo sim, vai ter nós duas morando juntas, vai ter um condomínio inteiro cientes que as vizinhas pretas do 409 são um casal.
Eu não vou me fingir de amiga nas festas em família, não vou fingir que não tenho par na festa de amigos se não puder estar ao lado dela. Eu simplesmente não vou!

Não sou invisível na hora de pagar as minhas contas, não sou invisível quando fulano precisa de mim, então por que seria invisível ao lado dela?

Não sou bem vinda na Igreja? Não vou a Igreja!
Não sou bem vista no emprego? Na medida do possível mudarei de emprego. A família não quer saber que eu sou lésbica? Não tocarei no assunto....

MENTIRA! Cansei de ser um disfarce heteronormativo.

Eu EXISTO! E vou frequentar os lugares que eu quiser, vou me assumir do jeito que eu quiser e vou falar sobre o que eu quiser.
Eu não sou um erro, não sou uma falha ou um desvio. Então se te incomoda saber quem eu sou, que VOCÊ se mude!

Vai ter beijo homoafetivo na novela sim, e se não quiser ver que mude de canal!
Não tem LÉSBICA na TV, no CINEMA, no letra da música?
Pois eu é que não vou pagar para ir no cinema ver um romance eurocêntrico e heteronormativo.  Quem disse que mulher com mulher não é romance? E não me venham com 'Azul é a Cor Mais Quente' não. Eu quero é mulher PRETA ganhando visibilidade.
Se não tem indicação no Oscar? Pois que se dane essa porra de Oscar. Crie-mos nossos próprios meios!

A primeira medalha de ouro nessas Olimpíadas
não é branca, não é hétero e não é masculina. Quem tá levando o teu SISTEMA excludente para a lona é Rafaela Silva. E ela é LÉSBICA sim! Ela é muito LÉSBICA, meu povo!
Ela é LÉSBICA para boceta! E sabe de uma coisa? Você vai ter que aplaudir essa mulher. Você vai ter que assumir: ela EXISTE!

E como ela nós RESISTIMOS!

#mêsdavisibilidadelésbica"

Nega Flor tem 30 anos, é negra, estudante de jornalismo e técnica de enfermagem. Ela e Raiane tem 11 meses de relação, e moram juntas há 4.

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