#MêsdaVisibilidadeLésbica: Sobre ser uma mãe lésbica num país pós-golpe, por Natacha Orestes
* Conteúdo assinado
pelo #ProjetoHisteria
Ser uma mãe lésbica num país pós-golpe é ter a consciência
de que os abusos sexuais contra crianças tenderão a aumentar como já tem
aumentado nos últimos anos (os casos de gravidez na adolescência dobraram). Se
numa democracia em construção a cultura do estupro come solta, numa ditadura
civil, policial ou jurídica, tudo só tende a piorar.
Ser uma mãe lésbica num país pós-golpe é olhar para um
projeto de lei escrito com a finalidade de encarcerar mães que lutam contra
pais agressores e/ou estupradores, gritar loucamente pra que todas nós lutemos
pelas crianças e ter de ler que estou dando show.
Ser uma mãe lésbica é lembrar de Olga Benário e de como foi
enviada grávida para a Alemanha nazista, lembrar do filme em que ela diz que
luta ao lado da revolução, não de um homem. É saber que Freud é sobre
sexualização institucional de crianças. É saber que as teorias queer têm sido
usadas como plataforma de defesa dos sim direitos do sexo masculino de
fetichizar seres incapazes consentir: crianças, cadáveres e animais. É saber
que você será jogada na fogueira por enxergar tudo de olhos abertos e não se
submeter e manter os lábios cerrados.
Ser uma mãe lésbica é estar na mira e fazer da sua própria
existência, um grito de liberdade, ainda que ela não se cumpra no presente. Ser
uma mãe lésbica é chamar o 1° e o 2° Ato das Mães pelo Interesse Superior das
Crianças e Contra o Retorno do Pátrio Poder e não ver ninguém colando a não ser
o PSC, com o intuito de cooptar a luta contra a pedofilia.
Ser uma mãe lésbica é ter vontade de cortar os pulsos por
ser tão odiada e invisibilizada quando se é uma voz necessária à luta das
mulheres, mas resistir, porque a compreensão de que um suicídio não é uma
história autoral e sim apenas o disparo de um gatilho que o sexo masculino
colocou na cabeça do sexo feminino prevalece sobre o sentimento de inutilidade
e impotência diante do poder sexual masculino.
Ser uma mãe lésbica é lembrar, todos os dias antes de
dormir, o que significa resistir. Uma mãe lésbica não é diversidade. É
resistência!
Natacha Orestes, mãe, educadora, produtora de conteúdo e DJ.
Idealizadora do SóMinas (www.sominas-e-music.tumblr.com), um projeto de
empoderamento de mulheres na música eletrônica, do #MulherArtistaResista, uma
iniciativa para promover visibilidade de artistas do sexo feminino e do
#ProjetoHisteria, que centraliza narrativas de sobreviventes de violência
masculina para combater a cultura do estupro usando as novas mídias como
ferramenta. Ativista contra a pedofilia, seus textos políticos podem ser lidos
no www.milfwtf.wordpress.com.
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