Até onde vai a sua sororidade?

Pensei muito antes de escrever esse post. Primeiro, porque eu tenho sérios problemas com a palavra sororidade- na maioria das vezes, ela é usada de forma seletiva ou errônea -. Segundo, porque minha cabeça pipocou sobre o que eu escreveria essa semana. Vários assuntos me trouxeram reflexões, muitas incômodas, muitas instigadoras e provocativas. Tão provocativas que provavelmente devo escrever mais de um post essa semana, de tantas coisas pipocando na minha cabeça.

Mas, principalmente, eu queria muito conversar sobre sororidade, ou melhor, sobre sua solidariedade e respeito em relação à outras mulheres. Em específico, eu queria muito falar sobre a dita cuja com relação às companheiras mães.

Todas nós sabemos que sororidade é um conceito muito complicado de exercer. É muito difícil às vezes sair da sua zona de coforto - quando se tem uma - para ir lá, ajudar uma mulher que está em zero condições.
Vou dar um exemplo: O feminismo, como sabemos, também é constituído de muitas mulheres de classe média, brancas e com condições financeiras favoráveis. E muitas mulheres, em situações completamente opostas, aproveitam as redes sociais para buscar no feminismo alguma ajuda. Lembro-me bem de uma amiga feminista, de classe média, divulgando um post da página Ajude Uma Mulher , com o título "Ajude Uma Mulher com apenas 1 real". Muito poucas mulheres curtiram. Algumas compartilharam. Algumas ajudaram o post a "subir". E minha amiga ficou comentando "mano... 1 real", incrédula com a incapacidade das pessoas de doar pra uma mulher muito necessitada. Mulheres que o feminismo deveria atingir, porque é pela equidade e contra a desigualdade social que ele serve - ainda que o chamado feminismo liberal tente distorcer esse princípio -.

Mas ok. Ajudar quem está longe, ainda que seja necessário, é algo que ainda é difícil pra muitas pessoas. Mas e ajudar a mulher que está perto? E ajudar a mãe que está ao seu lado, você já pensou?

E quando digo ajudar uma mulher mãe, não estou falando somente no sentido financeiro.



Quando você vê uma mãe conhecida, você se oferece para ajudar com a(s) cria(s)?
Quando você vê uma mãe conhecida, você pergunta como ela está ou se precisa de ajuda?

E aquela sua amiga que virou mãe e você esqueceu que ela era sua amiga e só lembra que agora ela é mãe?
Você já pensou em fazer algum programa que incluísse ela - e o(s) filho(s) dela?
Talvez seja muito difícil pra você pensar em abandonar as noitadas, eu compreendo. Já pensou então em perguntar se ela está livre algum dia, e quando?
Já pensou em incluí-la nos seus espaços, não somente quando dá, mas criar oportunidades onde ela possa estar?
Ela, infelizmente, não tem a mesma livre escolha de ir e vir como você.
Você já pensou (ainda estamos no plano das ideias) em fazer algo, em algum momento, para aliviar a rotina dela de alguma forma?
Já pensou em se oferecer, pelo menos uma vez ou outra, para cuidar da cria enquanto ela faz alguma coisa?
Se você não sabe ou não se sente preparada para lidar com crianças (porque isso é um direito seu, inclusive), você já ofereceu a ela ajuda com alguma parte de sua rotina?
Já pensou em chamá-la para os espaços que você considera importante, e não somente deixá-la de lado pois ela tem "ocupações de mãe"?

Se uma conhecida que é mãe estuda, você já pensou em oferecer a ela alguma ajuda com a matéria?
Já pensou em fazer algo que facilitasse a sua rotina de estudos?

Se essa conhecida é estudante universitária, você já pensou em conversar com os professores sobre muitas de suas faltas? Ou já pensou em ajudá-la na monografia? Recolher informações, fichar (ou não) textos e escrever e ainda cuidar de uma criança não é algo que consiga ser feito com muita facilidade.

Se sua conhecida mãe milita ao seu lado, você já pensou que ela talvez não tenha o tempo que você considera necessário à militância? Já pensou em mediar de alguma forma os conteúdos de reuniões exaustivas para que ela não sofresse tanto com suas ausências? Já pensou em aproximar ela de pautas que dialoguem com ela, como a creche universitária e à melhor inclusão de mães no mercado de trabalho?

Se você disse que "não" à boa parte dessas perguntas, sinto muito, sua sororidade anda muito falha.

É muito fácil incluir mulheres, inclusive mulheres mães, no seu discurso feminista, principalmente porque ele fica bem mais bonito quando a gente inclui todas as minorias. Quando se fala que mulheres negras, mães, mães solo, periférias, lésbicas, todas elas precisam ser abrigadas, é algo que enobrece o discurso feminista e dependendo da boca que se fala, lhe dar inclusive um ar caridoso.
Mas é muito difícil de fato ter empatia com essas minorias.
É muito difícil lembrar que a mulher negra não é sua faxineira.
Que a sua amiga lésbica não é seu teste de heterossexualidade.
Que a mulher periférica pode estar na universidade.
E que a sua colega, conhecida ou amiga que é mãe também é uma mulher, e precisa ser tratada como tal.

Então, vamos combinar algo que beneficie a todas nós?

Da próxima vez que falar a palavra sororidade,lembre do peso que ela carrega. Lembre que sororidade é ajudar uma mulher na situação em que ela estiver, no momento em que ela precisar, e não quando você quer ou acha conveniente. Se for o caso, também reflita sobre outras palavras que talvez você possa usar. Ajuda, amizade, empatia. Talvez você esteja tendo um conceito bem errôneo sobre elas. Mas nunca é tarde para rever.

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