Onde está a mãe negra nas redes sociais?

Esse blog existe desde que eu engravidei do Gael, há mais ou menos 3 anos atrás. E ele é fruto de várias inspirações que eu tive, de várias páginas que segui, de vários blogs que li sobre maternidade e sobre dicas de como criar crianças. Páginas famosas e que eu conheço, porque todo mundo sabe que mães, infinitamente mais do que pais, se dedicam a se melhorar, se inteirar e procurar ser mães melhores e mais presentes na vida de seus filhos.
Eu acho fantástico isso, porque possibilita que as mães, em diferentes lugares, se conectem por situações-problema em comum na maternidade e se sintam acolhidas, juntas e isso acaba criando um sistema de solidariedade, ainda que essas linhas que as liguem sejam invisíveis.

Entretanto, hoje, estava conversando com a madrinha do Gael, que também é mãe e negra, e ela me questionou sobre algo muito interessante. Segundo seu questionamento, fui fuçar um pouquinho os dados sobre o que ela me falava: os negros são a maior parte da população no Brasil segundo o IBGE (54%). De 50,79% das mulheres no Brasil, 44% delas são negras e pardas. E 69,70% das mulheres pretas e pardas são mães, contra 67,60% das mulheres brancas (ainda segundo o IBGE). E o questionamento da minha amiga era: onde estão essas mulheres, negras e mães, nas redes sociais?

Todo mundo hoje em dia sabe o que é Facebook, Youtube, Twitter, Instagram. 58% da população brasileira tem acesso à internet, segundo o próprio Facebook. E as redes sociais são meios fortíssimos de interação, de comunicação, acesso à informação e conhecimento. Onde estão essas mulheres negras, mães, falando sobre maternidade nos espaços? (ou sobre outra coisa, que seja!)

 No Instagram, as mães negras quase não aparecem, até em hashtags genéricas, como #maternidade.

Minha amiga é viciada em Youtube e redes sociais no geral. Ela acompanha muitos canais e foi ela quem percebeu não só a falta das mães negras nesses espaços, como, quando elas existem, são negligenciados em relação aos canais e páginas de mães brancas. 
Podemos fazer um comparativo.

Flávia Calina tem grande fama no Youtube por falar de maternidade. A maioria das mães que conheço já viram seus vídeos no Youtube. Flávia tem mais de 2 milhões de inscritos em seu canal.
Preta Pariu, que é um canal/página que eu admiro e sigo há um bom tempo, tem uma boa quantidade de vídeos e a página dela já tem um bom tempo no Facebook. Há apenas pouco mais de 12 mil inscritos.

"Enquanto ela cresce" é um Instagram sobre maternidade, onde uma mãe branca escreve. São 14.8k seguidores.

Sobre o mesmo assunto, escreve Sula, com a página/Instagram "O brincar de Isa". 775 seguidores.

Mulheres negras demoram bem mais à se motivar para escrever, e quando escrevem, não são reconhecidas. Por quê?

Porque o filho da mãe branca é considerado mais bonito, segundo o padrão de beleza.
Porque a mulher branca também é padrão de beleza, o que faz com que as outras mães, inclusive negras, se espelhem nelas. 
Porque o cenário da mulher branca geralmente, é um apê bem montado.
Porque as fotos da mulher branca, são a realidade que as outras mulheres queriam ter.
Mãe branca fala sobre acordar de madrugada, tentar dormir e não conseguir, dificuldades num relacionamento, dificuldades que toda mãe sofre e que DEVEM SER MOSTRADOS. INDEPENDENTE DA RAÇA, MÃES PRECISAM DE ESPAÇO E SEREM OUVIDAS.

Mas ainda mais ouvida, precisa ser a mãe negra.

O cenário da mãe negra não é mais um apê, mas uma favela.
Ou um apartamento apertadinho que não tem papel de parede no fundo.
A mãe negra não é padrão de beleza e o cabelo crespo do filho dela já não é mais modelo da Johnson, mas estética do favelado catarrento. 
Mãe negra fala sim sobre acordar de madrugada, mas nem sempre com o choro do bebê, mas talvez com o tiro cantando próximo ao seu bairro ou sua casa. 
Sobre não conseguir um relacionamento, não só porque ela é mãe, mas porque o namorado trocou ela por uma mulher branca.
Mães negras falam sobre como a estética exclui os seus filhos.
Da violência obstétrica do SUS, que é bem diferente da Perinatal.
Sobre como ela é, muito mais do que a mãe branca, largada com a cria, ou mais de uma, pelo pai que não quis saber.

Mães negras tem especifidades que precisam de mais atenção.
Mas elas não vendem. Não dão likes. Não dão visualizações.

Porque ninguém quer ver a realidade. Todo mundo quer sonhar com a maternidade, mas ninguém para pra ver que ela não é romântica, e que tem muito mais mãe preta aos 18, do que a loirinha da classe média.

Nem nas hashtags específicas sobre a maternidade negra, as mães pretas obtém destaque.

Empoderemos todas as mães. TODAS.
Não somente as brancas.
Não somente as superfamosas que mostram o material do filho com lápis da Faber Castell de 60 reais a caixa, mas também as que ensinam como fazer gambiarra com a mamadeira em garrafinha de refrigerante.

Empoderemos as mães pretas.
Vamos ouvir o que elas tem a dizer. Vamos ouvir o que elas precisam dizer. 
Mãe preta existe, e resiste! 

Lembre-se: #mãenegraexiste. E se você não lembrar, a gente faz isso por você.







Comentários

  1. Que post incrivel.. vou usar com mais frequencia a #maternidadenegra e permanecer na luta.

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  2. Uau! Você leu meus pensamentos e ouviu minha conversa com um amigo ainda essa semana. Exclui um monte de gente que não acrescentava da minha rede social e até pensei em torna-la um perfil de compartilhamento aberto por sentir essa necessidade de representatividade. Mas por enquanto ainda são planos. Pois é muito ruim não me vê nas dicas e cotidianos dos videos que assisto/blogs que eu leio, porque REPRESENTATIVIDADE IMPORTA!

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    1. A questão da representatividade é tão fundamental,e o problema é que ela é sempre tratada como vitimismo.
      Precisamos mudar isso urgente.

      Obrigada pelo prestígio, mana!

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  3. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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  4. Olha só que texto intenso! E como faz sentido tudo o que escrevestes (infelizmente), porque acredito que nem precisaria ser assim, mas como é admiro que estejas lutando pelo contrário, acredito que não precisaríamos disso, poderíamos apenas ser mães iguais, pessoas iguais, filhos iguais, tenho duas parceiras no blog que dão seus depoimentos como mães as vezes, uma branca e uma negra, e nunca percebi diferença entre o amor maternal delas e muito menos menos sofrimento ou mais felicidade, afinal, maternidade real é real em qualquer lugar com qualquer pessoa. Continue representando, estou adorando seus textos, somos iguais, vamos caminhar juntas! Qualquer coisa conta comigo, e não pare de escrever ou postar!
    Beijos.

    Blog Jovens Mães / Instagran / Facebook

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    1. Essa diferença não existe sentimentalmente, mas socialmente... E o mais triste é que ela é interpretada como invisível. Que a gente consiga ter mais representatividade negra sim!

      Obrigada pelo prestígio e vou ler esse blog maravilhoso! ❤❤❤

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